Como o baixista Charles Mingus, a jazzista e “band leader” Carla Bley que nasceu no 11 de maio de 1938, acredita que conceitos políticos devem ser manifestados através da musica.
Nada melhor do que conhecê-la através de suas próprias palavras.
JazzLogical: Acha que é importante tocar esta música? O que é que os músicos têm a dizer sobre política?
Nada melhor do que conhecê-la através de suas próprias palavras.
JazzLogical: Acha que é importante tocar esta música? O que é que os músicos têm a dizer sobre política?
Carla Bley: Muitas vezes eu penso que é como pregar aos convertidos. O pregador está na igreja e diz: Jesus vai salvar as vossas almas! E os fiéis respondem: É verdade ele vai salvar as nossas almas! Porque eles já acreditam nisso.Quando estamos nalguns países a tocar canções políticas, eles concordam connosco. Mas se estivesse a tocar essa música na Convenção Republicana, as pessoas odiariam. Se estamos a tocar para pessoas que estão de acordo connosco, é fácil… Não vamos converter ninguém; eles já estão convertidos. Donald Rumsfeld nunca vai ouvir essa música.
JazzLogical: Talvez que tenha razão. Mas creio que é importante sabermos que a América não é toda igual. Que nem todos concordam com a intervenção no Iraque ou a política ambiental americana. Claro que eu já era «um convertido», mas para mim, e acho que para toda a gente que lá estava, foi importante sabermos em 1971 – quando aconteceu aquele episódio com Charlie Haden - que «lá fora» as pessoas também estavam como nós contra a guerra nas colónias portuguesas…
Carla Bley: É o que Charlie diz e eu também compreendo. Isso tornou-vos mais fortes. Espero que tenha razão.
JazzLogical: Mas a Carla também faz política. "Looking For America" é um disco político?
Carla Bley: À minha maneira, sim. Nós todos odiamos esta política. Não conheço ninguém que esteja contente com esta situação. É embaraçador ser americano. Charlie sempre foi muito envolvido politicamente e eu não. Ele acredita que a música pode mudar o mundo. Eu sou um pouco mais cínica. E céptica.
JazzLogical: Como vai ser o seu proximo disco?
Carla Bley: O meu novo trabalho vai sair já no próximo ano. Estivemos a gravar no verão passado… Eu viajei com a Big Band durante três semanas. Durante um ano eu escrevi música baseada em canções populares americanas dos anos 50. Tin Pan Alley e coisas dessas… porque quando eu tinha 17 anos eu trabalhei no Birdland como cigarette girl, outras vezes como fotógrafa…
JazzLogical: Então isso não é uma lenda? Toda a gente fala nisso.
Carla Bley: Não! Eu estava lá para ouvir Count Basie, para ouvir Jazz e para aprender a ser como eles. Ouvi-o centenas de vezes! Vendi-lhe cigarros… Bom, como era Count Basie eu dava-lhe os cigarros… Eu tinha que o ouvir. E ouvia todas as outras big bands… Gil Evans, tantas que já nem me lembro dos nomes. Eles tocavam em night clubs. Podia ficar-se mesmo a dois passos de pessoas como Joe Williams. As pessoas não eram nada formais… riam, batiam com os pés…entre os sets falavam…bebiam, fumavam, falavam, tudo isso… e agora quando vamos a concertos temos toda a gente sentada nas suas cadeiras muito direita e muito séria, por vezes parecem gado nos currais muito alinhados e direitos. Há toda uma atmosfera que se perdeu. Eu quero trazer de volta a atmosfera desse tempo, dos Night Clubs…
JazzLogical: Eu conheci a sua música pela primeira vez com um célebre disco, à frente da Jazz Composers Orchestra Association, dos anos 60. Recorda-se disso?
Carla Bley: Uau! A sério? Isso foi noutra vida!
JazzLogical: A sua música mudou imenso desde então. O que é que mudou na sua música e no Jazz desde esses tempos do Free Jazz?
Carla Bley: Todos mudámos. Mas eu não sei o que mudou no Jazz. Eu faço o que faço, apenas. Eu estou muito mais conservadora. Quando comecei eu queria mudar a música. Queria descobrir novas notas. Queria ser importante. Conforme fui crescendo eu apenas queria ser boa naquilo que fazia. E acho que fui conseguindo ser cada vez melhor. Mas deixei de querer mudar a música. Agora eu sou tão conservadora quanto se pode ser.
JazzLogical. Nunca toca standards…
Carla Bley: Por acaso no novo álbum com a big band eu toco «I hadn't any one till you»
JazzLogical: Uma última pergunta. Disse que não sabia o que era o Jazz actual. Não ouve Jazz?Carla Bley: Eu nunca ouço música nenhuma a não ser a minha. Porque eu estou sempre no meu quarto. Bom, realmente eu não vou a concertos. E também não ouço discos porque estou sempre ocupada a trabalhar. De certa forma eu estou sempre no meu pequeno mundo.
JazzLogical: Uma última pergunta. Disse que não sabia o que era o Jazz actual. Não ouve Jazz?Carla Bley: Eu nunca ouço música nenhuma a não ser a minha. Porque eu estou sempre no meu quarto. Bom, realmente eu não vou a concertos. E também não ouço discos porque estou sempre ocupada a trabalhar. De certa forma eu estou sempre no meu pequeno mundo.
Entrevista dada ao jornalista português Leonel Santos em 2006, logo depois de um concerto com a "big band" de Carla em Guimarães.
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