Esta não é uma música para o jantar, nem é o Último Tango em Paris, entretanto há insinuações de tango esvoaçando em torno do programa. Isto é Gato Barbieri com um pouco de estridência em sua caminhada, saindo da liberdade da “avant-garde” dos anos 60 — alta, abrasiva, pouco polida e sem apologias.
Mostrando a influência do seu trabalho com Don Cherry, Barbieri traz toneladas de energia para esta sessão de 1967 pela ESP, que o encontra dialogando com um parceiro inusual, Calo Scott, tocando um cello eletrificado.A grande entonação de Barbieri parece uma nota eletrificada, já que ele toca com uma intensidade que rivaliza com os atuais guitarristas.
Seu sax soa de todas as formas, e apresenta um sentimento maldosamente distorcido quando alcança os extremos do seu instrumento, o que é frequente.As duas faixas são separadas em duas sessões, que não são facilmente discerníveis ao se escutar. A música alcança elevada efervescência, diminui um pouco, então volta a subir de tom outra vez. As diferentes sessões misturam beleza constante com explosivas expressões livres.
Em certo ponto, a entonação e escolhas de Barbieri são magníficas, envoltas em um senso de exploração determinada. Por outro lado seu som atua como um prolongado eletrochoque. A inspiração, ocasionalmente, perde-se na repetição, como se o sax tomasse a mesma linha repetidamente, martelando multifônicos gemidos. Frequentemente, isto soa bem, mas nem sempre.Os momentos de excelência ocorrem quando Scott e Barbieri mergulham em momentos de profunda conversação, repetindo linhas para cada um, ou leva a música para uma majestosa e devastadora altura. "Obsession No. 2 / Cinemateque" apresenta uma beleza quase clássica, ainda que tocada pelo sentimento do “free”.
O baterista Bobby Kapp também tem chance para brilhar na segunda faixa, com um par de extensos e poderosos solos com tempestade polirítmica. Traços de tango são livremente postos na cacofonia de "In Search of the Mystery / Michelle". Scott parece sofrer um pouco nesta faixa, mas seu notável pizzicato na abertura cria quase um ar místico para Barbieri ser amoroso, antes de mergulhar na música com crescente intensidade.
Embora não seja uma música para muitos, é excitante ouvir Barbieri com seu som rascante, uivos e tempestuosidades. A música é sempre original, sempre pessoal e sempre em busca de algo para mostrar.
Como nunca encontra as respostas, mantém o frescor do seu som e faz ouvir, verdadeiramente, uma única e verdadeira experiência.
CD "In Search of the Mystery"
Faixas: In Search of the Mystery / Michelle; Obsession No. 2 / Cinemateque.
Músicos: Gato Barbieri: saxofone tenor; Calo Scott: cello; Norris Jones "Sirone": baixo; Bobby Kapp: bateria.
Fonte : All About Jazz / Warren Allen
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