Sunday, March 21, 2010

SON HOUSE


O influente cantor e guitarrista de blues Eddie James House, Jr., mais conhecido como Son House, nasceu no 21 de março de 1902 em Riverton, Mississippi. Segundo de três filhos do casal Eddie e Maggie House, a familia vivia constantemente se mudando, sempre de plantação em plantação, entre os estados de Mississippi e Louisiana. Aos sete anos, seus pais se separaram e sua mãe se mudou com os filhos para Tallulah, sul de Louisiana, perto de Vicksburg.


Son House resolveu trabalhar com algodão e estudar, conseguindo a rara proeza de se manter nos estudos até completar a oitava série. Durante este período ele se torna crente da religião Batista e fervoroso freqüentador da igreja. Aos quinze anos (1917) já pregava nas esquinas, sonhando em ser pastor. Sua imersão e devoção religiosa lhe deram a oportunidade de aprender a ler partitura de cânticos religiosos, graças à paciência e instrução de seu tio pastor. Em retrospecto, será este conhecimento que irá ajudá-lo a aprender a tocar o violão tão rapidamente.


Paralelamente a sua vida religiosa na Louisiana, Son conseguiu manter boas relações com seu pai que ele vez por outra visitava no Mississippi durante férias escolares. Seu pai, tirava prazer tocando violão e tuba em uma banda montada com seus outros sete irmãos, apresentando um repertório de blues, waltz e 'música antiga'. Son House lembra nitidamente odiar aquele tipo de música e sempre procurou evitar músicos e seus hábitos beberrões.


Certa noite em um bar na cidade de Mattson, algumas poucas milhas de Clarksdale, House já aos vinte e um anos de idade, assiste um músico local faturando uns trocados cantando suas lamúrias. O músico era Willie Wilson, um bluesman do sul de Mississippi pelo menos quinze anos mais velho que House. Wilson tocava usando uma garrafinha de remédio no dedo anular da mão esquerda. Foi a primeira vez que Son ouvia um violão tocado no estilo bottleneck. O som tirado por Wilson despertou finalmente seu interesse pelo violão.


Com seu aprendizado de ler pauta de cantos religiosos, Son House pode aprender rapidamente o violão, comprando um velho e quebrado, que Rubin Lacy ajudou a consertar e afinar para ele. Outro bluesmen com quem Son House ouviu e lhe influenciou se chama James McCoy. Seus dois blues, "My Black Mama" e "Preachin' the Blues", seriam retrabalhados por House que acabaria mudando a letra e transformando-as em suas. House percebe rapidamente que ele consegue se sustentar com muito menos trabalho cantando por trocados e, embora envergonhado, passa a viver desta maneira, cantando em piqueniques, danças e festas na região de Robinsville, perto de Leon, de 1922 até 1928.


House acaba casado com Carrie Martin e se associa ao Dr. McFallen's Medicine Show, em Ruleville, onde ele apresentava um repertório repleto de gospel e blues. São estes dois pólos, o divino representado pelo gospel e o profano representado pelo blues, o centro de seu dilema interno.


House resolveu a viver como músico de blues andarilho, pegando carona escondido em trens cargueiros e buscando carona nas estradas, que acabaram levando-o até a cidade de Lula, ainda no Mississippi. Lá conheceu Charlie Patton, uma das maiores figuras do blues até aquele momento. Embora os dois homens tivessem temperamentos diferentes, o que geralmente levava a discussões que acabavam em brigas esquentadas, foi Patton que abriu as portas de Son House para a gravadora Paramount Records em Grafton, Wisconsin.


House gravou dez faixas, das quais até o momento, apenas quatro foram lançadas. São elas "My Black Mama (Part 1)," "Preachin' the Blues (Part 1 & 2)," e "Dry Spell Blues (Part 1)." O resto foi perdido, tendo a canção "Walkin' Blues" sido encontrada somente depois de sua morte. Ainda continuam desaparecidas as demais gravações desta histórica sessão. Que se saiba, elas são "My Black Mama (Part 2)," "Dry Spell Blues (Part 2)," “Clarksdale Moan”, “Mississippi County Farm”, e “What Do You Want Me To Do”.


Este material quando saiu, o fez no formato da época que eram discos de 12 polegadas em 78 rpm. Consta que esta remessa, pela falta de investimento, fora prensada com a pior e mais barata maquinaria disponível, de forma que mesmo novo, já se ouvia tudo com chiado. Ainda assim, estas gravações demonstram Son House completamente em controle sob seu violão, como também sua voz intimidadora, descrita por alguns como 'demoníaca', tamanha força e ressonância, certamente adquirida nos seus tempos em que pregava como pastor.


Embora vendendo pouco, foram essas gravações que atraíram Alan Lomax, representante da biblioteca do Congresso Americano a procurá-lo para gravar em 1941. Entre os dez anos que separam estes dois registros, Son House havia evoluído para sua melhor forma, circulando por Mississippi e Tennessee tocando com o amigo Willie Brown e seguido por um tempo pelo adolescente Robert Johnson. Quando Willie Brown gravou seu "Future Blues", Son House estava com ele ajudando no violão. Son também arrumara outra mulher, Evie McGown, com quem permaneceria casado pelo resto de sua vida, embora não tendo nenhum filho conhecido com ela.


Os registros de Lomax são particularmente significativos porque, além do material solo que Son House gravou só de voz e violão, foi também organizada uma pequena banda de boteco. Algumas faixas chegam a durar seis minutos, tão à vontade a atmosfera e a música nestas segundas sessões realizadas em 1942 em Robinsville, Mississippi.


Son House sumiu do mapa após a morte do amigo Willie Brown, perdeu o gosto para a coisa. Concluiu que ninguém estava realmente interessado no blues e desistiu da carreira. Simplesmente abandonou o violão, se mudou com a mulher e recomeçou a vida fazendo outra coisa.


Ele havia se mudado para a pequena cidade de Rochester no estado de Nova York, vivendo anonimamente. Foi somente em 1964 que foi encontrado por Dick Waterman, Nick Perls and Phil Spiro, um grupo de jovens pesquisadores e amantes do blues. Pela insistência deste grupo, garantindo que havia um novo público de jovens brancos interessado no blues e em particular nele, foi que Son House acabou persuadido a voltar a tocar e se apresentar. De fato, o interesse pelo blues havia crescido na Inglaterra desde o final da década de cinqüenta e após a invasão inglesa na cena musical americana em 1964, bandas como os Rolling Stones passaram a divulgar cada vez mais os trabalhos dos velhos mestres.

Regravou vários de seus antigos sucessos de bar para o selo Blue Goose em Washington D.C, ainda em 1964, e no ano seguinte em Nova York, para Columbia em 1965. Faixas como "Death Letter Blues," "Preachin' Blues" e "Grinnin' In Your Face", que embora tendo Son House passado seu auge, ainda deixam uma forte impressão no ouvinte. Sua carreira nunca esteve mais ativa do que na década de sessenta onde encontrou público ansioso por ouvir sua música em toda parte dos Estados Unidos e Canadá, onde se apresentou.



Em 1967 visitou a Inglaterra e depois outras partes da Europa. Algumas de suas apresentações ao vivo foram gravadas e lançadas pelo selo Vanguard Records. Gravou outro disco pelo selo Roots Records em 1969 e em setenta participou do prestigiado Montreux Jazz Festival, na Suíça.


Em 1971 sua saúde começou a declinar e suas excursões internacionais e pelo país cessaram praticamente por completo. Passou a morar na cidade de Búfalo no estado de Nova York onde permaneceu pelos próximos cinco anos. Son House foi diagnosticado primeiro com Alzheimer, o que afetou sua memória para lembrar as canções e como tocá-las. Ainda assim, encontrou forças para participar do Toronto Island Blues Festival de 1974, no Canadá. É sua última apresentação ao vivo conhecida.


O mestre Son House faleceu no 19 de outubro de 1988.
Son House canta e toca "Death House Blues"


“The blues ain´t nutin’ but a low-down shakin’ chill. If you never had ‘em children, I sure hope you never will.” ( Son House)



Referência - House Webpage

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