Thursday, May 18, 2006


OITO ANOS SEM SINATRA
(14/05/1998 – 14/05/2006)


Quando Frankie morreu ao cair da noite fatídica do dia 14 de Maio de 1998, a exatamente oito anos, a noticia foi publicada nas primeiras páginas da grande maioria dos jornais do planeta. Muitos lançaram edição extra com suplementos especiais.
Houve pouco alarde, pouca surpresa por parte das hordas de fãs espalhadas pelo mundo. The Chairman-of-the-board vinha com a saúde deteriorando paulatinamente a algum tempo e o compasso de espera era pelo pior. Ele já tinha vivido demais, por esta razão as colunas de obituário possuíam farto material para publicar sobre a sua existência, os seus tempos memoráveis.
A ocasião tornou obrigatório divulgar sua vitórias e derrotas, a saga familiar, seus quatro casamentos, suas batalhas físicas e verbais com repórteres e fotógrafos. Era preciso muito tempo e palavras para descrever todos os seus romances com detalhes. Ava Gardner em especial. Havia informação de sobra sobre o seu destempero, brutalidade e crueldades quando tomado pela bebida.
Por alguns foi descrito como canalha, por outros como um monstro cujo comportamento só era redimido pelo seu talento. Também havia os episódios de sua odisséia política que pendeu, ora para esquerda, ora para direita. Era preciso esmiuçar a pecha de mafioso que lhe rendeu o envolvimento com os membros do mob Italiano da época, parte inevitável de sua história de vida.
Por outro lado, eram inquestionáveis os relatos de sua imensa generosidade para com os amigos, estranhos e os bilhões de dólares que angariou para doar a tantas entidades de auxilio aos carentes no mundo inteiro. Sem meias palavras: Ol`Blue Eyes era indubitavelmente um ser complicadíssimo.....
Mas a grande verdade é que o King of the Hill, depois de milhares de cigarros Camel, incontáveis doses do mais puro Jack Daniels, estava velho demais e como acontece a todos nós quando envelhecemos, suas engrenagens estavam desgastadas. Ele abusou de seu corpo como quis, além dos limites, ter chegado aos oitenta e dois anos de idade foi um triunfo sobre as probabilidades, um golpe de sorte.
Foi-me muito difícil ler nos jornais e ver na televisão tudo isso, narrado por pessoas destituídas do sentimento Sinatriano, da magia da época gloriosa que ele ajudou a esculpir com figuras não menos fabulosas como Cole Porter, Irving Berlin, Peggy Lee, Gordon Jenkins, Louis Armstrong, Duke Ellington, Billie Holiday, The Rat Pack e tantos outros. Só conseguia mentalizar a importância de Vagabond Shoes para tanta gente e como continuará sendo, nos anos que ainda estão por vir.
O radio foi o melhor veículo de transporte mental à sua marcante personalidade e genialidade musical. Sabe por quê?
Porque lá estava inteira a música de Frank Sinatra, a força propulsora de sua vida. Se não houvesse a música ninguém teria escrito aqueles longos obituários e não teria havido os especiais na televisão.
Agora que Sinatra saiu de cena, levando consigo a sua raiva, generosidade e estilo pessoal, a música permanece. E no futuro vai estar presente, não importa o que venha a acontecer com a sempre evolutiva cultura popular.
Meu filho Nicholas Artanis, minha neta Sofia Nelson seguramente não irão curtir a musica de Sinatra da mesma forma que a minha e outras gerações curtiram. Mas a arte maior sempre haverá de prevalecer. Muito depois da morte do virtuoso saxofonista Charlie Parker a sua leitura dos blues urbanos continua inebriando, Billie Holiday continua sussurrando a sua angústia, Mozart ainda explode de alegria através de suas sinfonias. No frigir dos ovos, é a emoção que a musica deles nos causa, quando a ouvimos, que figura como importante.
Todos os dias, alguém nas grandes cidades, nos pequenos vilarejos mundo a fora, descobre a arte destes monstros sagrados e se encontra com a qualidade misteriosa que torna o ouvinte mais humano. Emocionando através do dom musical, grandes artistas da musica transcendem a solidão dos indivíduos e se tornam cúmplices da maior de todos as dores, a dor da saudade.
No triunfo final sobre a banalidade da morte, estes gênios do passado continuam a fazer a diferença nas nossas vidas. Como Francis Albert Sinatra.

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