Liberdade, ainda que tardiaPor
Humberto Amorim* em 13/05/2006
No dia 13 de maio de 1888 a Princesa Imperial Isabel Cristina Leopoldina de Bragança, filha do Imperador D. Pedro II, também conhecida como “A Redentora”, assinou a Lei Áurea que sancionou a extinção da escravidão, tornando o Brasil no último país a por fim ao período de escravatura nas Américas. Pelo feito recebeu de SS o Papa Leão XIII a Rosa de OuroNão resta a menor dúvida que este acontecimento foi um marco importante para o que deveria ter sido o inicio da integração social dos negros na sociedade brasileira. Infelizmente, não foi observado após a assinatura da famosa lei, nenhuma providência por parte dos mandatários da época, para que tal acontecesse. Os negros ex-escravos foram literalmente largados ao Deus dará, continuando a exercer funções que geralmente incluíam os trabalhos pesados, domésticos e o que hoje muito bem conhecemos como biscate.Tá na cara que o Brasil jamais foi exemplo de democracia racial. Muito embora numa certa época o discurso oficial do governo central seguisse na trilha do suposto “exemplo de integração racial”. Era só pra Inglês ver. Os antigos senhores da senzala, depois que os ventos da liberdade começaram a soprar para os negros, voltaram a preferência e simpatia para a mão-de-obra dos imigrantes italianos e alemães que ao chegar, além das boas-vindas, recebiam com as benesses do poder central, um pedacinho de terra pra construir uma tapera e iniciar uma atividade agrícola.Enquanto isso, ao abandonarem os campos de cana-de-açúcar e de algodão, os negros que decidiram desfrutar da “novel liberdade” se dirigindo aos centros urbanos, foram parar direto nas cozinhas, no cais do porto e calçadas da cidade pra viver de viração defendendo o pão-nosso-de-cada-dia.Ao cair da noite seguiam em direção aos locais que lhes era oferecido pela Mãe Natureza no topo dos morros ou lugares onde “não mora ninguém”.Acabaram por inventar os barracos dando forma ao que hoje se constitui em uma das marcas registradas deste país: as favelas.As crianças não estudavam e permaneciam sem qualquer formação técnica. Para elas era reservada a tarefa de ajudar aos pais na labuta diária.Na verdade não é difícil chegar a uma lamentável constatação pela comparação dos acontecimentos que marcaram o passado longínquo, com acontecimentos iguais nestes novos tempos: a grande maioria dos negros continua acorrentada á pobreza, a falta de acesso a educação, de oportunidades justas e igualdade social. Pra isso meus amigos, não tem Lei Áurea que dê jeito.Ao longo dos anos, a celebração é voltada para assinante da lei e não para as conquistas sociais que dela deveriam ter derivado.Pensando bem, vai ver que é por isso que é melhor deixar o 13 de maio ficar como sempre foi: o dia da Princesa. O importante é permanecer irredutível nas trincheiras da luta pelos direitos civis, pois o que a maioria dos negros brasileiros mais precisa hoje em dia é das ferramentas indispensáveis ao crescimento pessoal, de liberdade, ainda que tardia, para o exercício da cidadania.
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