Thursday, May 18, 2006



Guerreiras Amazonas da modernidade clamam por seus direitos

Por Humberto Amorim* em 03/05/2006


Há três anos uma luta silenciosa e aguerrida tem sido mantida pelas guerreiras amazonas da modernidade, muito parecidas com àquelas avistadas pelo explorador espanhol Francisco Orellana no município de Nhamundá no Amazonas nos idos de 1540, que removiam um dos seios para melhor utilização do arco e flecha durante as batalhas. As guerreira de hoje também tiveram um ou os dois seios removidos (mastectomizados), mas por outra causa: sobreviverem para continuarem no campo de batalha contra o câncer mamário. A luta é motivada pelo desafio de conseguir para todas que foram submetidas ao procedimento de mastectomia, a reconstrução das mamas, principalmente para aquelas mulheres que não dispõem de recursos para pagar uma oncoplástica na rede particular de saúde em Manaus. Os maiores entraves encontrados pelas dirigentes do Centro Integrado Amigas da Mama (Ciam) que tem a coordenação de Joana de Fátima, são a falta de apoio governamental e o desinteresse pela causa. O Ciam é uma ONG não governamental que sobrevive com certa dificuldade e muita dignidade desde 1999. É formada por um grupo de voluntárias que tem como sede uma casa alugada que fica em frente ao Hospital do Câncer, para facilitar a ida e vinda dos pacientes que visitam a casa por períodos que vão desde a notificação da doença até o final do tratamento. As amigas da mama querem tão somente fazer valer os direitos previstos pela lei 9.797 de maio de 1999 que obriga o SUS a realizar a reconstrução mamária nas pacientes que foram submetidas à mastectomia radical desde que tecnicamente possível. É preciso deixar claro que este procedimento cirúrgico faz parte do tratamento do câncer de mama e não é de forma alguma um mero capricho de vaidade. A mutilação feminina acarreta transtornos e perdas quase irrecuperáveis, tendo em vista que a mama simboliza a não só sexualidade da mulher como também o divino evento da maternidade.Essas bravas guerreiras têm feito de tudo; já recorreram ao ministério público Estadual em 2005 quando do II FÓRUM FEMININO DE LUTA CONTRA O CÂNCER e em 2004 a uma audiência pública na Assembléia Legislativa do Estado.Até agora, estão pregando no deserto.Para se ter uma idéia da gravidade, de 2000 até hoje foram realizadas apenas 18 reconstruções no âmbito público estadual; em contra-partida na Fundação Cecon 93 mastectomias radicais foram realizadas em 2005. Até quando mulheres tão sofridas com diagnósticos de câncer lidando com o medo, o pânico de um recidiva da doença ou de uma metástase, com tamanha mutilação, terão que lutar pelo óbvio? Estão cogitando uma medida radical para chamar atenção da sociedade: descer a Avenida Eduardo Ribeiro encapuzadas com os seios à mostra. A quem de direito fica a questão: será preciso chegarem a tanto?O artigo acima é de responsabilidade do autor, não reflete necessariamente a opinião do Portal Amazônia ou do grupo Rede Amazônica. Opiniões podem ser enviadas para botafogoamorim@uol.com.br

No comments: