Thursday, May 18, 2006


O maior ecologista da Amazônia é o mosquito da malária

Por Humberto Amorim* em 17/05/2006

A partir da década de 70, com a Política do Governo de promover a integração e desenvolvimento econômico da Região Amazônica, foram abertas várias estradas,construídas usinas hidrelétricas, ativados diversos garimpos e lançados grandes Projetos de Colonização e Reforma Agrária.Estes fatores provocaram um crescimento demográfico acentuado e desordenado devido a atração de mais de 1 milhão de pessoas para região, causando ocorrências de epidemias de malária dispersas em toda Amazônia, sem a necessária estrutura de saúde apara atender a população.Segundo as declarações do Ministro da Saúde Agenor Álvares, que esteve neste fim de semana em Manaus, em 1999 foram registrados mais de 600 mil casos de malária na Amazônia Legal, região que concentra mais de 99% das ocorrências no Brasil.No ano 2000, concomitante ao processo de descentralização das ações da Vigilância em Saúde, que instituiu o repasse de recursos para estados e municípios certificados na modalidade fundo a fundo, por intermédio do Teto Financeiro de Vigilância em Saúde, o Ministério lançou o Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária na Amazônia Legal.Para viabilizar a execução das ações de Vigilância em Saúde o Ministério da Saúde em 2003 repassou para os fundos municipais e estaduais de saúde, recursos de onze milhões setecentos e quarenta e seis mil reais. Em 2004 a verba foi de cento e dezoito milhões seiscentos e sessenta e um reais em 2005 cento e quarenta e um milhões oitocentos e nove mil reais. Estima-se que 70% desses recursos são aplicados no controle da malária, pela maioria dos estados e municípios da Amazônia Legal. Atualmente, os 808 municípios da Amazônia Legal contam com 3.075 laboratórios para diagnóstico da malária, 14.005 unidades de notificação da doença e 40.516 agentes de saúde envolvidos no controle da endemia, além de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde para atenção ao paciente, atendendo 129.923 localidades. Essa ampla rede de laboratórios e tratamento possibilitou, em 2005, a realização de mais de três milhões de exames para o diagnóstico e acompanhamento de casos de malária, bem como o tratamento de todos os casos diagnosticados, inteiramente grátis para a população.Apesar de todos os recursos investidos e esforços envidados pelo Ministério da Saúde no ano de 2005 foram notificados 600 mil casos de malária, correspondendo a um aumento de 29% em relação a 2004. Esta frustrante constatação deveu-se principalmente a intensa e desordenada ocupação das periferias das capitais dos estados do Amazonas e de Rondônia e no município de Cruzeiro do Sul no Acre. Esses municípios concentram 26% dos casos de malária da Região.O desmatamento para extração de madeira, criação de gado, agricultura e assentamentos não oficiais também tem contribuído para o aumento da transmissão da doença. Um novo fator colaborador que se fosse mencionado a dez anos ninguém acreditaria, é o aumento dos criadouros do mosquito vetor da malária em função da atividade de piscicultura, com a construção de tanques artificiais, seja nos quintais dos domicílios ou nas periferias de diversas cidades.O abandono de milhares de tanques no interior, principalmente em Cruzeiro do Sul no Acre, tem agravado ainda mais este quadro.Felizmente nem tudo é motivo para alarme. Rigoroso monitoramento dos programas implantados em conjunto com a Organização Pan-Americana de Saúde e instituições de pesquisas da Amazônia, possibilitou detectar o inicio da resistência do Plasmodium falciparum, parasito transmissor da forma mais grave da malária, ao sulfato de quinina. A partir desta informação, o Ministério adotou providencias para importar uma nova droga, que já foi testada no Brasil e que tem eficácia e efetividade constatadas, para substituir aquela medicação. Ainda neste mês e maio será implantado este novo tratamento para malária falciparum. Por outro lado, os efeitos desse acompanhamento sistemático já surtiram efeito no primeiro trimestre de 2005, com a redução dos casos de malária em todos os estados, exceto no Acre.Uma coisa é certa, embora a malária continue sendo um grave problema de saúde pública na Região Amazônica, a sua incidência pode ser reduzida pelas ações dos serviços de saúde, como já demonstrado no país, neste e em outros contextos.A nova dinâmica de transmissão é muito influenciada pelo crescimento desordenado das cidades médias e grandes da Região Norte. Por isso o Ministério da Saúde desencadeou amplo processos de mobilização de forças multisetorias, principalmente dos gestores de saúde nos estados e municípios da Região Amazônica. O objetivo é a promoção articulada da ordenação de movimentos populacionais, com priorização, em suas respectivas agendas, das ações de vigilância, prevenção e controle da malária.Finalmente acho bom esclarecer o titulo deste artigo. Maca é um cantor-compositor muito conhecido em Manaus e é dele a música “O Mosquito da Malária”. Retirei uma estrofe de seus versos para lembrar a todos que o mosquito da malária através dos séculos, até a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, onde ocorreu no inicio do século passado a maior explosão da doença com milhares de vitimas fatais, estava lá no seu cantinho no topo das árvores se alimentando de roedores até que um dia chegaram os predadores humanos e começaram a derrubar as árvores, ato contínuo, deu nisso tudo que acabamos de constatar.O artigo acima é de responsabilidade do autor. Não reflete necessariamente a opinião do Portal Amazônia ou do grupo Rede Amazônica. Opiniões devem ser enviadas para botafogoamorim@uol.com.br

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