Thursday, May 25, 2006


Sentados em um barril de pólvora

Por Humberto Amorim* em 24/05/2006

Brasileiro tem o hábito de fechar a porta depois que o ladrão entra. Infelizmente, os acontecimentos que ultimamente têm alimentado as manchetes,matérias e editorias de grandes jornais e cadeias de televisão, deixam isso bem claro. Segundo relatos mais recentes, os episódios que se seguiram a explosão de violência em São Paulo foram precedidos de alguns sinais de fumaça emitidos pelo vulcão de violência instalado nas penitenciarias do mais poderoso Estado do Brasil, que foram desdenhados e totalmente ignorados pelas principais autoridades competentes do setor de segurança. Somente depois que o vulcão explodiu, ceifando covardemente as vidas de gente honesta e trabalhadora e atentando contra as instituições publicas é que ações de repressão aos ataques por parte do estado foram tomadas.Existem muitos fatos que continuam a estarrecer a sociedade acerca do sistema prisional no Brasil. Presídios lotados, corrupção, falhas na segurança e falta de alternativas para evitar a ação dos criminosos, são os principais. Nos países do primeiro mundo, bandido servindo pena não tem privilégios. O regime reinante nos presídios é de obediência às regras, muita disciplina e trabalho.Quem escrever fora da cartilha, é punido sem apelação. Afinal de contas, é isso que se espera do Sistema Prisional: que o preso cumpra a sua pena, seja reabilitado e devolvido à sociedade.No caso do Brasil onde inexiste a vontade política para investir no sistema, as penitenciárias são depósitos de presos, escolas do crime para os novatos e quartel-general para os chefões do crime organizado, isto ainda é um sonho muito distante da realidade.A situação nos presídios de Manaus não difere do resto do país. Precisamos estar alertas aos sinais que correm na imprensa de que rebeliões estão sendo programadas para acontecer nos próximos dias. E, se estamos sentados em um barril de pólvora prestes a explodir, a sociedade deve fortalecer o gênio do bem na luta contra o gênio do mal, permanecendo coesa no apoio às ações eficientes de repressão por parte das forças de segurança publica.Por sua vez, todos os setores de segurança devem unir capacidade e inteligência para se manter na vanguarda de acontecimentos que porventura estejam sendo planejados pelo crime organizado que deve, pelo menos aqui, ter seu círculo de influência interrompido com o máximo rigor.

Monday, May 22, 2006




GILBERTO MESTRINHO E OS DOIS LADOS DA MOEDA.



Entrevistei no programa “Encontro com o Povo” pelo Amazon Sat nesta última quinta-feira, o senador Gilberto Mestrinho que acaba de completar 78 anos de idade. O velho Boto, tal qual Frank Sinatra que manteve o mesmo repertório musical ao longo de sua brilhante carreira, continua com o mesmo discurso contra os “exageros dos eco xiitas ” que segundo ele, posicionam a preservação da floresta como sendo mais importante que o homem amazônico e os mesmos chavões: “Se o povo quiser serei candidato novamente..., “Sempre amei o Amazonas mais do que as mulheres...”, “O Brasil trata árvore como Indiano trata vaca..”. Estes são apenas alguns dos trapézios verbais que o tem mantido no poder por tanto tempo.
O homem demonstra firmeza de propósitos sem igual, e quem duvidar, é só dar uma olhada nos números da sua última eleição vitoriosa ao senado quando recebeu nas urnas 405 mil votos em todo Estado do Amazonas.
De volta a tranqüilidade de minha casa, lembrei-me de um antigo episódio que teve o velho senador como ator principal e que até hoje guardo como uma lição, principalmente, para aqueles que sonham com o poder como meta de conquista.
Depois de ter sido massacrado pelo resultado das urnas na eleição para prefeito de Manaus em 1988, Gilberto Mestrinho fez exatamente o que fazem os perdedores nestas ocasiões: enfiou com toda dignidade que lhe é peculiar a sua viola no saco e foi cantar em outra freguesia. Passou um tempão se fingindo de morto para enganar os bobos na casca do ovo.
Nesta época eu produzia e apresentava um programa domingueiro de 8:00 horas ao meio dia pela Radio Amazonas FM que se chamava “Oficina de Turismo”. O formado era inovador e irreverente. Tocava do jazz ao brega, entrevistava personalidades, políticos, cozinheiras, taxistas, prostitutas, travestis, cheira-colas (recebi um prêmio da hoje extinta Associação Amazonense de Imprensa que na época tinha como presidente o atual Deputado Federal Francisco Garcia, por ter levado pela primeira vez ao estúdio de uma radio cinco meninos de rua que detonaram a policia e seus métodos, o aliciamento dos homossexuais em troca de cola de sapateiro e dinheiro) e comentava sobre um determinado assunto que escolhia a dedo durante a semana. Geralmente, após a minha abordagem, pelo telefone os ouvintes manifestavam-se a favor ou contra, ao serem colocados no ar.
Lembro-me de uma vez em particular quando com muita veemência critiquei as centenas, talvez milhares de “cabocas” de Manaus por estarem pintando os belos e brilhosos cabelos negros, de amarelo, macaqueando uma artista da novela que fazia muito sucesso então. Passeando pela Eduardo Ribeiro aos sábados a impressão era de estar nas ruas dos países da Escandinávia, lotadas de louras.... todas falsas. Como vaticinou o poeta Aldisio Figueiras, Manaus jamais será Liverpool, mas certamente já teve realçado o seu lado Estocolmo (sic), pelo menos nos cabelos de suas mulheres.
Meu comentário deu muito pano para manga e me presenteou com a amizade que cultivo até hoje do meu confrade de diretoria na Associação Brasileira dos Amigos do Vinho, Pedro Missioneiro, um dos ouvintes que se manifestou a favor de minha critica.
Voltando ao eixo deste artigo. Certo dia telefonei, no finalzinho de 1989 para o então cidadão comum sem-mandato Gilberto Mestrinho, pois havia sido informado que ele, na surdina, já havia visitado mais de trinta municípios do Amazonas, como parte da estratégia de retomada do poder, desta vez como candidato a Governador do Estado e que se encontrava em Manaus repousando da maratona interiorana naquele fim-de-semana. Quem atendeu a ligação foi seu fiel escudeiro e sempre gentil Antonio Bentes Pacheco. Aguardei por alguns instantes e de repente escutei a voz do Professor que já veio me saudando efusivamente, perguntando como ia a minha família, o meu trabalho e arrematou dizendo que estava com saudade de nossas entrevistas. Eu então, de forma bem pragmática fui direto ao ponto: convidei-o para relatar o estado em que se encontravam os municípios por ele visitados numa entrevista ao programa. Meu convite foi aceito de pronto e agendamos para o domingo as 8:30 horas nos estúdios da Radio Amazonas.
O domingo amanheceu muito nublado e por volta das 8 horas começou a desabar um toró sobre Manaus, para dorminhoco nenhum colocar defeito. Fiquei apreensivo pois havia divulgado a entrevista a exaustão, esta seria a primeira que ele daria depois que perdeu a eleição e aquele dilúvio parecia que ia colocar areia no meu pirão. Para minha surpresa e gáudio, bate o telefone do estúdio, era a portaria me comunicando que um senhor se auto-denominando “ governador Mestrinho” estava a minha procura. Chovia a píncaros.
O estúdio da Radio Amazonas ficava no final de um grande e bem arborizado terreno baldio onde hoje se encontra o edifício-sede da Rede Amazônica de Televisão. Entre a portaria e a porta do prédio, muita lama, bota lama nisso. No meio do lamaçal caminhando sobre uma ponte improvisada de pranchões, lá vinha ele, amparado por Pacheco, com as calças enroladas, de alpercatas, disputando a proteção de um pequeno guarda-chuva.
A presença dele no programa foi um sucesso de audiência. Entrevista que é bom, quase nada. Tomou conta do programa, escolheu músicas, conversou com os ouvintes pelo telefone, ouviu pacientemente todas as denúncias, queixas e lamúrias, fez promessas e apontou para as soluções, se fosse reconduzido ao Palácio Rio Negro. Encerrou a participação dizendo aos ouvintes: “Se vocês quiserem, eu serei candidato a Governador, fiquem tranqüilos”.
Despediu-se com um abraço fraterno e assegurou que a primeira entrevista como governador-eleito seria para mim. O cidadão Mestrinho deixou o estúdio com o astral mais em cima. Lá fora, o ruído da chuva que não dava trégua, continuava.
Em Dezembro de 1990 , após as eleições, Gilberto eleito, dito e feito. Antonio Pacheco me liga e pergunta onde e quando seria entrevista.

Thursday, May 18, 2006


O maior ecologista da Amazônia é o mosquito da malária

Por Humberto Amorim* em 17/05/2006

A partir da década de 70, com a Política do Governo de promover a integração e desenvolvimento econômico da Região Amazônica, foram abertas várias estradas,construídas usinas hidrelétricas, ativados diversos garimpos e lançados grandes Projetos de Colonização e Reforma Agrária.Estes fatores provocaram um crescimento demográfico acentuado e desordenado devido a atração de mais de 1 milhão de pessoas para região, causando ocorrências de epidemias de malária dispersas em toda Amazônia, sem a necessária estrutura de saúde apara atender a população.Segundo as declarações do Ministro da Saúde Agenor Álvares, que esteve neste fim de semana em Manaus, em 1999 foram registrados mais de 600 mil casos de malária na Amazônia Legal, região que concentra mais de 99% das ocorrências no Brasil.No ano 2000, concomitante ao processo de descentralização das ações da Vigilância em Saúde, que instituiu o repasse de recursos para estados e municípios certificados na modalidade fundo a fundo, por intermédio do Teto Financeiro de Vigilância em Saúde, o Ministério lançou o Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária na Amazônia Legal.Para viabilizar a execução das ações de Vigilância em Saúde o Ministério da Saúde em 2003 repassou para os fundos municipais e estaduais de saúde, recursos de onze milhões setecentos e quarenta e seis mil reais. Em 2004 a verba foi de cento e dezoito milhões seiscentos e sessenta e um reais em 2005 cento e quarenta e um milhões oitocentos e nove mil reais. Estima-se que 70% desses recursos são aplicados no controle da malária, pela maioria dos estados e municípios da Amazônia Legal. Atualmente, os 808 municípios da Amazônia Legal contam com 3.075 laboratórios para diagnóstico da malária, 14.005 unidades de notificação da doença e 40.516 agentes de saúde envolvidos no controle da endemia, além de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde para atenção ao paciente, atendendo 129.923 localidades. Essa ampla rede de laboratórios e tratamento possibilitou, em 2005, a realização de mais de três milhões de exames para o diagnóstico e acompanhamento de casos de malária, bem como o tratamento de todos os casos diagnosticados, inteiramente grátis para a população.Apesar de todos os recursos investidos e esforços envidados pelo Ministério da Saúde no ano de 2005 foram notificados 600 mil casos de malária, correspondendo a um aumento de 29% em relação a 2004. Esta frustrante constatação deveu-se principalmente a intensa e desordenada ocupação das periferias das capitais dos estados do Amazonas e de Rondônia e no município de Cruzeiro do Sul no Acre. Esses municípios concentram 26% dos casos de malária da Região.O desmatamento para extração de madeira, criação de gado, agricultura e assentamentos não oficiais também tem contribuído para o aumento da transmissão da doença. Um novo fator colaborador que se fosse mencionado a dez anos ninguém acreditaria, é o aumento dos criadouros do mosquito vetor da malária em função da atividade de piscicultura, com a construção de tanques artificiais, seja nos quintais dos domicílios ou nas periferias de diversas cidades.O abandono de milhares de tanques no interior, principalmente em Cruzeiro do Sul no Acre, tem agravado ainda mais este quadro.Felizmente nem tudo é motivo para alarme. Rigoroso monitoramento dos programas implantados em conjunto com a Organização Pan-Americana de Saúde e instituições de pesquisas da Amazônia, possibilitou detectar o inicio da resistência do Plasmodium falciparum, parasito transmissor da forma mais grave da malária, ao sulfato de quinina. A partir desta informação, o Ministério adotou providencias para importar uma nova droga, que já foi testada no Brasil e que tem eficácia e efetividade constatadas, para substituir aquela medicação. Ainda neste mês e maio será implantado este novo tratamento para malária falciparum. Por outro lado, os efeitos desse acompanhamento sistemático já surtiram efeito no primeiro trimestre de 2005, com a redução dos casos de malária em todos os estados, exceto no Acre.Uma coisa é certa, embora a malária continue sendo um grave problema de saúde pública na Região Amazônica, a sua incidência pode ser reduzida pelas ações dos serviços de saúde, como já demonstrado no país, neste e em outros contextos.A nova dinâmica de transmissão é muito influenciada pelo crescimento desordenado das cidades médias e grandes da Região Norte. Por isso o Ministério da Saúde desencadeou amplo processos de mobilização de forças multisetorias, principalmente dos gestores de saúde nos estados e municípios da Região Amazônica. O objetivo é a promoção articulada da ordenação de movimentos populacionais, com priorização, em suas respectivas agendas, das ações de vigilância, prevenção e controle da malária.Finalmente acho bom esclarecer o titulo deste artigo. Maca é um cantor-compositor muito conhecido em Manaus e é dele a música “O Mosquito da Malária”. Retirei uma estrofe de seus versos para lembrar a todos que o mosquito da malária através dos séculos, até a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, onde ocorreu no inicio do século passado a maior explosão da doença com milhares de vitimas fatais, estava lá no seu cantinho no topo das árvores se alimentando de roedores até que um dia chegaram os predadores humanos e começaram a derrubar as árvores, ato contínuo, deu nisso tudo que acabamos de constatar.O artigo acima é de responsabilidade do autor. Não reflete necessariamente a opinião do Portal Amazônia ou do grupo Rede Amazônica. Opiniões devem ser enviadas para botafogoamorim@uol.com.br


Guerreiras Amazonas da modernidade clamam por seus direitos

Por Humberto Amorim* em 03/05/2006


Há três anos uma luta silenciosa e aguerrida tem sido mantida pelas guerreiras amazonas da modernidade, muito parecidas com àquelas avistadas pelo explorador espanhol Francisco Orellana no município de Nhamundá no Amazonas nos idos de 1540, que removiam um dos seios para melhor utilização do arco e flecha durante as batalhas. As guerreira de hoje também tiveram um ou os dois seios removidos (mastectomizados), mas por outra causa: sobreviverem para continuarem no campo de batalha contra o câncer mamário. A luta é motivada pelo desafio de conseguir para todas que foram submetidas ao procedimento de mastectomia, a reconstrução das mamas, principalmente para aquelas mulheres que não dispõem de recursos para pagar uma oncoplástica na rede particular de saúde em Manaus. Os maiores entraves encontrados pelas dirigentes do Centro Integrado Amigas da Mama (Ciam) que tem a coordenação de Joana de Fátima, são a falta de apoio governamental e o desinteresse pela causa. O Ciam é uma ONG não governamental que sobrevive com certa dificuldade e muita dignidade desde 1999. É formada por um grupo de voluntárias que tem como sede uma casa alugada que fica em frente ao Hospital do Câncer, para facilitar a ida e vinda dos pacientes que visitam a casa por períodos que vão desde a notificação da doença até o final do tratamento. As amigas da mama querem tão somente fazer valer os direitos previstos pela lei 9.797 de maio de 1999 que obriga o SUS a realizar a reconstrução mamária nas pacientes que foram submetidas à mastectomia radical desde que tecnicamente possível. É preciso deixar claro que este procedimento cirúrgico faz parte do tratamento do câncer de mama e não é de forma alguma um mero capricho de vaidade. A mutilação feminina acarreta transtornos e perdas quase irrecuperáveis, tendo em vista que a mama simboliza a não só sexualidade da mulher como também o divino evento da maternidade.Essas bravas guerreiras têm feito de tudo; já recorreram ao ministério público Estadual em 2005 quando do II FÓRUM FEMININO DE LUTA CONTRA O CÂNCER e em 2004 a uma audiência pública na Assembléia Legislativa do Estado.Até agora, estão pregando no deserto.Para se ter uma idéia da gravidade, de 2000 até hoje foram realizadas apenas 18 reconstruções no âmbito público estadual; em contra-partida na Fundação Cecon 93 mastectomias radicais foram realizadas em 2005. Até quando mulheres tão sofridas com diagnósticos de câncer lidando com o medo, o pânico de um recidiva da doença ou de uma metástase, com tamanha mutilação, terão que lutar pelo óbvio? Estão cogitando uma medida radical para chamar atenção da sociedade: descer a Avenida Eduardo Ribeiro encapuzadas com os seios à mostra. A quem de direito fica a questão: será preciso chegarem a tanto?O artigo acima é de responsabilidade do autor, não reflete necessariamente a opinião do Portal Amazônia ou do grupo Rede Amazônica. Opiniões podem ser enviadas para botafogoamorim@uol.com.br

Liberdade, ainda que tardia

Por Humberto Amorim* em 13/05/2006

No dia 13 de maio de 1888 a Princesa Imperial Isabel Cristina Leopoldina de Bragança, filha do Imperador D. Pedro II, também conhecida como “A Redentora”, assinou a Lei Áurea que sancionou a extinção da escravidão, tornando o Brasil no último país a por fim ao período de escravatura nas Américas. Pelo feito recebeu de SS o Papa Leão XIII a Rosa de OuroNão resta a menor dúvida que este acontecimento foi um marco importante para o que deveria ter sido o inicio da integração social dos negros na sociedade brasileira. Infelizmente, não foi observado após a assinatura da famosa lei, nenhuma providência por parte dos mandatários da época, para que tal acontecesse. Os negros ex-escravos foram literalmente largados ao Deus dará, continuando a exercer funções que geralmente incluíam os trabalhos pesados, domésticos e o que hoje muito bem conhecemos como biscate.Tá na cara que o Brasil jamais foi exemplo de democracia racial. Muito embora numa certa época o discurso oficial do governo central seguisse na trilha do suposto “exemplo de integração racial”. Era só pra Inglês ver. Os antigos senhores da senzala, depois que os ventos da liberdade começaram a soprar para os negros, voltaram a preferência e simpatia para a mão-de-obra dos imigrantes italianos e alemães que ao chegar, além das boas-vindas, recebiam com as benesses do poder central, um pedacinho de terra pra construir uma tapera e iniciar uma atividade agrícola.Enquanto isso, ao abandonarem os campos de cana-de-açúcar e de algodão, os negros que decidiram desfrutar da “novel liberdade” se dirigindo aos centros urbanos, foram parar direto nas cozinhas, no cais do porto e calçadas da cidade pra viver de viração defendendo o pão-nosso-de-cada-dia.Ao cair da noite seguiam em direção aos locais que lhes era oferecido pela Mãe Natureza no topo dos morros ou lugares onde “não mora ninguém”.Acabaram por inventar os barracos dando forma ao que hoje se constitui em uma das marcas registradas deste país: as favelas.As crianças não estudavam e permaneciam sem qualquer formação técnica. Para elas era reservada a tarefa de ajudar aos pais na labuta diária.Na verdade não é difícil chegar a uma lamentável constatação pela comparação dos acontecimentos que marcaram o passado longínquo, com acontecimentos iguais nestes novos tempos: a grande maioria dos negros continua acorrentada á pobreza, a falta de acesso a educação, de oportunidades justas e igualdade social. Pra isso meus amigos, não tem Lei Áurea que dê jeito.Ao longo dos anos, a celebração é voltada para assinante da lei e não para as conquistas sociais que dela deveriam ter derivado.Pensando bem, vai ver que é por isso que é melhor deixar o 13 de maio ficar como sempre foi: o dia da Princesa. O importante é permanecer irredutível nas trincheiras da luta pelos direitos civis, pois o que a maioria dos negros brasileiros mais precisa hoje em dia é das ferramentas indispensáveis ao crescimento pessoal, de liberdade, ainda que tardia, para o exercício da cidadania.

OITO ANOS SEM SINATRA
(14/05/1998 – 14/05/2006)


Quando Frankie morreu ao cair da noite fatídica do dia 14 de Maio de 1998, a exatamente oito anos, a noticia foi publicada nas primeiras páginas da grande maioria dos jornais do planeta. Muitos lançaram edição extra com suplementos especiais.
Houve pouco alarde, pouca surpresa por parte das hordas de fãs espalhadas pelo mundo. The Chairman-of-the-board vinha com a saúde deteriorando paulatinamente a algum tempo e o compasso de espera era pelo pior. Ele já tinha vivido demais, por esta razão as colunas de obituário possuíam farto material para publicar sobre a sua existência, os seus tempos memoráveis.
A ocasião tornou obrigatório divulgar sua vitórias e derrotas, a saga familiar, seus quatro casamentos, suas batalhas físicas e verbais com repórteres e fotógrafos. Era preciso muito tempo e palavras para descrever todos os seus romances com detalhes. Ava Gardner em especial. Havia informação de sobra sobre o seu destempero, brutalidade e crueldades quando tomado pela bebida.
Por alguns foi descrito como canalha, por outros como um monstro cujo comportamento só era redimido pelo seu talento. Também havia os episódios de sua odisséia política que pendeu, ora para esquerda, ora para direita. Era preciso esmiuçar a pecha de mafioso que lhe rendeu o envolvimento com os membros do mob Italiano da época, parte inevitável de sua história de vida.
Por outro lado, eram inquestionáveis os relatos de sua imensa generosidade para com os amigos, estranhos e os bilhões de dólares que angariou para doar a tantas entidades de auxilio aos carentes no mundo inteiro. Sem meias palavras: Ol`Blue Eyes era indubitavelmente um ser complicadíssimo.....
Mas a grande verdade é que o King of the Hill, depois de milhares de cigarros Camel, incontáveis doses do mais puro Jack Daniels, estava velho demais e como acontece a todos nós quando envelhecemos, suas engrenagens estavam desgastadas. Ele abusou de seu corpo como quis, além dos limites, ter chegado aos oitenta e dois anos de idade foi um triunfo sobre as probabilidades, um golpe de sorte.
Foi-me muito difícil ler nos jornais e ver na televisão tudo isso, narrado por pessoas destituídas do sentimento Sinatriano, da magia da época gloriosa que ele ajudou a esculpir com figuras não menos fabulosas como Cole Porter, Irving Berlin, Peggy Lee, Gordon Jenkins, Louis Armstrong, Duke Ellington, Billie Holiday, The Rat Pack e tantos outros. Só conseguia mentalizar a importância de Vagabond Shoes para tanta gente e como continuará sendo, nos anos que ainda estão por vir.
O radio foi o melhor veículo de transporte mental à sua marcante personalidade e genialidade musical. Sabe por quê?
Porque lá estava inteira a música de Frank Sinatra, a força propulsora de sua vida. Se não houvesse a música ninguém teria escrito aqueles longos obituários e não teria havido os especiais na televisão.
Agora que Sinatra saiu de cena, levando consigo a sua raiva, generosidade e estilo pessoal, a música permanece. E no futuro vai estar presente, não importa o que venha a acontecer com a sempre evolutiva cultura popular.
Meu filho Nicholas Artanis, minha neta Sofia Nelson seguramente não irão curtir a musica de Sinatra da mesma forma que a minha e outras gerações curtiram. Mas a arte maior sempre haverá de prevalecer. Muito depois da morte do virtuoso saxofonista Charlie Parker a sua leitura dos blues urbanos continua inebriando, Billie Holiday continua sussurrando a sua angústia, Mozart ainda explode de alegria através de suas sinfonias. No frigir dos ovos, é a emoção que a musica deles nos causa, quando a ouvimos, que figura como importante.
Todos os dias, alguém nas grandes cidades, nos pequenos vilarejos mundo a fora, descobre a arte destes monstros sagrados e se encontra com a qualidade misteriosa que torna o ouvinte mais humano. Emocionando através do dom musical, grandes artistas da musica transcendem a solidão dos indivíduos e se tornam cúmplices da maior de todos as dores, a dor da saudade.
No triunfo final sobre a banalidade da morte, estes gênios do passado continuam a fazer a diferença nas nossas vidas. Como Francis Albert Sinatra.

Wednesday, May 03, 2006




Luiza e nosso filho Nicholas Artanis no momento relax.

Monday, May 01, 2006




Estas imagens dizem tudo para mim.