Saturday, March 18, 2006

VINHO, O MELHOR AMIGO DO HOMEM: O JAZZ ENGARRAFADO


Vinícius de Moraes, o nosso eterno poetinha, declarou certa vez que o whisky é o melhor amigo do homem, o cachorro engarrafado.
Não tomo whisky, mas sou amante de vinhos e, movido pelo meu sentimento de sibarita declaro que existe um outro grande amigo do homem : o jazz engarrafado.
Quando se degusta um Carmènére Barrica Selection 2002 ouvindo Louis Armstrong e Ella Fitzgerald cantando "That Old Feeling", Oscar Peterson solando ao piano "Nighttime" na Salle Playel com Niels Osted Pederson no baixo acústico, Peggy Lee cantando "I don`t know enough about you" como leadsinger da banda do clarinetista Benny Goodman ou Billie Holiday com a voz mais rouca de tanta emoção ao cantar "I Love my Man", a inspiração de quem sorve, de quem ouve, cria um estado de espírito que se eleva e permanece como o vôo da gaivota sentada no colo do vento. Mas, nada disso seria possivel senão através do resultado direto de muita técnica e pendores lapidados pelo tempo, pela paciência e preparação que só tem significado se absorvidos no coletivo. O vinho pelo corpo, o jazz pelo espírito.
Por esta razão creio ser o vinho o melhor amigo do homem, o jazz engarrafado em milhões de garrafas diferentes umas das outras, caracterizadas por regiões, terroirs, aromas, sabores, safras e temperaturas e, de forma imprescindível na ponta da linha, pela avaliação personalizada do apreciador.
Finalmente vale lembrar que em jazz, a mesma música é lida de várias formas, dependendo da inspiração e da capacidade de improviso dos músicos, dos cantores. O igual não existe. Como ontem, hoje e amanhã, haverá sempre uma diferença.

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