Sunday, January 20, 2008



“Alegria do Povo”


25 Anos de Saudade.



No dia 20 de Janeiro de 1983 Mané Garrincha saiu de cena no Rio de Janeiro sendo considerado como um dos maiores craques do futebol brasileiro e do clube da estrela solitária, deixando atrás de si o nome registrado no “Hall of Fame de Todos os Estádios do Mundo" e marcado para sempre no futebol mundial com o apelido de “ alegria do povo”.
Quando sua esposa deu à luz ao quinto filho, seu Amaro Francisco dos Santos compareceu ao cartório e, ao ser perguntado pelo escrivão sobre qual seria o nome do garoto, respondeu apenas: Manoel. O escrivão não teve dúvidas: registrou-o apenas como Manoel, assim, sem sobrenome.
Mas os equívocos não pararam por aí. Seu Amaro disse que o filho havia nascido no dia 18 de outubro de 1933, quando o correto seria 28 de outubro. Poucos anos depois, Rosa, a irmã mais velha de Manoel, o apelidaria de Garrincha. Essa é a forma como no Nordeste chamam a cambaxirra, um pássaro bobo que canta bonito, mas não se adapta ao cativeiro. Não poderia haver melhor alcunha para ele. Desde garoto, Garrincha não se prendia à casa e nem a ninguém. Vivia solto em Pau Grande, subdistrito de Magé, no Rio de Janeiro, onde nasceu.
Foi somente na adolescência, quando começou a trabalhar na América Fabril, fabricante de tecido que comandava a vida em Pau Grande, que Garrincha ganhou o sobrenome. Seu encarregado acrescentou o “dos Santos” em sua ficha para não confundi-lo com os vários “manoéis”. Suspeita-se que o alcoolismo tenha nascido em Garrincha desde a infância. Descendente direto de índios, o garoto era “tratado” de várias enfermidades com uma mistura chamada cachimbo, feita com cachaça, mel de abelhas e canela em pau.
Antes de terminar a adolescência que Garrincha conheceu Swing e Pincel, os dois irmãos que o acompanhariam em inúmeras bebedeiras. Mas entrando na adolescência, o futebol já não era mais o único esporte apreciado por Garrincha. Seguindo os caminhos de seu pai, ele se tornaria o terror dos maridos, pais e namorados de Pau Grande. Para ele, valia o seguinte lema: “Caiu na rede é peixe”.
Foi o legítimo representante do futebol-arte brasileiro. Seu principal feito foi ter conquistado a Copa do Mundo de 1962 praticamente sozinho, depois que Pelé se machucou na segunda rodada da competição.
Mesmo com uma diferença de 6 cm que separava seus joelhos (a perna esquerda era arqueada para fora), sempre levava vantagem sobre o marcador. Sua jogada característica era o drible desconcertante para a direita, o arranque e o cruzamento para a área. Fez parte do melhor time do Botafogo de todos os tempos, que contava com Zagallo, Didi, Amarildo, Garrincha e seu compadre Nilton Santos, e dos melhores anos da seleção brasileira.
Começou a jogar aos 14 anos, no Esporte Clube Pau Grande. Mais tarde foi levado por Arati, um ex-jogador, para o Botafogo. O Botafogo pagou 500 cruzeiros, equivalente a US$ 27 (a menor transação do futebol mundial em todos os tempos para um jogador de sua categoria).
No clube da estrela solitária, Garrincha viveu seus anos de glória. Foi Campeão Carioca em 1957 e bi em 1961 e 1962. Pelo clube, marcou 242 gols em 613 jogos entre os anos de 1953 e 1965. No final da carreira, com o preparo físico debilitado, chegou a defender o Corinthians, onde, aos 33 anos, conquistou o Torneio Rio-São Paulo de 1966 (jogou apenas 13 vezes pela equipe paulista) e o Flamengo, além de equipes menores do futebol brasileiro e colombiano.
Indisciplinado, não foram poucas as vezes que esquentou o banco na seleção brasileira. Apesar da pouca cultura fora de campo, era um gênio dentro dele. Sagrou-se Campeão Mundial com a seleção brasileira em 1958, na Suécia, e no Chile, em 1962, quando, na ausência de Pelé, foi eleito o melhor jogador da Copa.
Garrincha morreu no Rio de Janeiro, no dia 20 de janeiro de 1983, vítima de um edema pulmonar. O velório foi realizado no estádio do Maracanã, onde deu verdadeiros espetáculos, e foi acompanhado por milhares de fãs.
"Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho". Carlos Drummond de Andrade

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